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Devorado

Vês! Ninguém assistiu ao formidável   Enterro de sua última quimera.   Somente a Ingratidão – esta pantera –   Foi tua companheira inseparável!   Acostuma-te à lama que te espera!   O homem, que, nesta terra miserável,   Mora, entre feras, sente inevitável   Necessidade de também ser fera.    Augusto dos Anjos, Versos Íntimos Tiago não conhecia as pessoas como conhecia os papéis. Embrulhava, amassava, cheirava, dormia e respirava papel. Trabalhava à noite em uma gráfica para sustentar seus quatro filhos e sua esposa. Morava no bairro do Brás, próximo à estação de trem e trabalhava nesta gráfica no distrito de Santo André. Um leão faminto, exatamente assim poderia ser descrito Tiago quando operava a máquina de corte de papéis na gráfica. Sentia muita saudade da esposa e dos filhos, principalmente até as duas horas da madrugada, horário da ceia em que via Rita. Ah, Rita! Que arrocho de mulher! Uma morena lindíssima com olhos amendoa...
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Relatos de uma alma

De repente eu vim. E da aurora virginal Até o cume banal, Do aceno da dor Do orbe mirim Da irrazão animal Um trépido terror Quando me vi vestido Da linguagem  Uma ânsia de amor De um peito partido Eu herdava da linhagem Um coro de costumes Que me tirava a inocência  E agora a demência  Tinha cronômetro  Inserido Mas deixei minha marca Uma mancha incolor Sem graça e odor E para o espanto De todos que viram O meu espectro  Uma vida, um espanto Imperceptível Em graça e torpor Talvez tenha morrido santo.

Momento

Com movimento flexível, inexorável  E a forma elástica dos passos Com elegância, a sua anatomia admirável  Desvia dos obstáculos e embaraços  Dança sua cernelha em compasso Lenta e de grande beleza No ritmo três por quatro Persegue impassível sua presa  Seu olhar de antiguidade Reconhecido no Império Egípcio   Apresenta um mistério inato O brilho profundo da eternidade Que só externa o frontipicio  Da altivez do lindo gato
 Sobre "A Inocência do Padre Brown" Personagem originalíssimo de Chesterton, surgido primeiramente no conto A Cruz Azul , o saudoso padre Brown não perde sua originalidade e a sua veia clássica, uma vez que os temas não oxidam com o tempo e parecem estar na ordem do dia. Para os mais aficionados progressistas de plantão, a trama dos contos de Brown pode soar como melodramas ao gosto de um período medieval, como alguns poderiam ousar dizer, próprios de uma época envolta em trevas fundamentalistas e anti racionais. A grande questão é o fato de que a personagem é exatamente o contrário. Em certa feita, Chesterton escreveu a ilustre frase: Chegará o dia em que teremos de provar ao mundo que a grama é verde Parece-me que padre Brown procura provar o tempo todo que a cor da grama é verde, ainda que aqueles mesmos críticos de plantão supracitados possam afirmar que a religião obscurece a razão, o que Brown oferece nos contos é exatamente o contrário e o faz com maestria e um método ...
  Verdade “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são e das coisas que não são, enquanto não são”. Protágoras Bonifácio não era um nome tão comum, principalmente no início do século XXI, quando a moda eram nomes que figuravam na tela dos cinemas ou em novelas e séries de TV. Pois bem, o fato é que Bonifácio era um homem casado e de meia idade com 40 anos. Silvia era a esposa de quem gostava e ao mesmo tempo desconfiava de adultério, principalmente depois que ela começou a terapia com aquele tal de doutor Ferraz. Sua esposa tinha 38 anos de idade e há tempos sofria de certo colapso nervoso. Moravam na cidade de São Paulo. O clima seco do outono sul-americano sempre a afetava, pois era alérgica à poeira e sofria de asma. Mas, voltemos ao doutor Ferraz. Bonifácio o via como um galã de cinema. Seus traços lembravam muito Richard Gere em seu Outono em Nova Iorque, mas o que mais o intrigava era o fato de Silvia estar mais feliz desde que começara...
Altitude No dia marcado para o encontro, o "Filósofo", como era conhecido o professor de artes, chegou um pouco atrasado e sua presença foi amplamente notada pelos asseclas. A comunidade tinha pouco menos de um ano e já contava com um número razoável de adeptos, se não me falhe a memória uns trinta ou trinta e dois larápios incluindo mulheres e idosos.  O galpão de encontro ficava no subúrbio da cidade de SP em um local que o próprio narrador desconhece tamanho sigilo exigido para tal demanda. A rua mais próxima do beco principal era coberta de musgo verde oriundo da garoa fina e do excesso de mal cuidado daquele antro.  Havia 30 cadeiras de bar que saíram de algum contrabando municipal. No meio dessa cambada de desocupados vale à pena destacar os três principais: o Filósofo, o Cão Farejador e o Sem Braços. Cada apelido tinha um significado prático e a pessoa que o possuía também carregava o simbolismo prático de sua ação no grupo. Não faltava criatividade para as alcunhas, d...